É uma obrigação social falar sobre suicídio com uma abordagem séria | Artigo de Cláudia Gruber
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O ano era 1994. Mike Emme (17 anos), um jovem cheio de vida e amigos, restaurou um Mustang 68 e o pintou de amarelo. Era seu luxo. Foi nesse carro, no dia 8 de setembro, que ele tirou sua vida. Em seu velório, os amigos distribuíram fitas amarelas com a frase: “Se precisar, peça ajuda.” Assim, surgiu nos Estados Unidos o movimento “Yellow Ribbon” como forma de conscientizar as pessoas sobre o suicídio.
No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) iniciou as atividades de conscientização sobre o tema em 2014, na cidade de Brasília e, de lá para cá, o movimento tornou-se nacional e fez com que, no mês de setembro, este assunto se transformou uma discussão necessária, sobretudo no ambiente escolar. Porém, não é só em setembro que devemos abordar a questão.
O suicídio, assim como outros assuntos (pedofilia, drogadição, estupro) ainda é um tema delicado para ser tratado de forma aberta pela sociedade, já que muitos segmentos não se sentem preparados para tal discussão, por questões ideológicas, religiosas ou morais.
No entanto, quando o assunto diz respeito à vida, não podemos ter medo, já que ela é o bem mais precioso que temos.
Dados do Ministério da Saúde nos trazem números estarrecedores. O suicídio é a terceira causa da morte entre nossos jovens de 15 a 29 anos; em torno de 12 mil pessoas suicidam-se por ano; a cada 46 minutos uma pessoa comete suicídio no país. Além disso, outros estudos mostram que há um aumento exponencial de sintomas como medo, angústia e depressão na população em geral, sobretudo depois da pandemia da covid-19.
Desde 2018, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em parceria com o Ministério da Saúde e a Secretaria de Saúde do Paraná (SESA), oferta um curso online gratuito sobre Prevenção ao Suicídio. Nele, dentre outras questões abordadas, pudemos ver mitos e verdades sobre o assunto.
Julgamos importante discutir alguns pontos para ajudar a desmistificar certos discursos e a percebermos alguns sinais. Vamos lá?
MITO: Quem fala, não comete.
VERDADE: Essa fala pode ser um pedido de ajuda. A pessoa está no seu limite e acaba exteriorizando o desejo suicida.
MITO: Suicídios acontecem sem aviso prévio.
VERDADE: Praticamente todos os casos foram precedidos de sinais como uma profunda tristeza, depressão, isolamento social, oscilações de humor.
MITO: Quem ameaça, quer chamar a atenção.
VERDADE: As ameaças são sinais e devem ser levadas a sério. É necessário investigar se há motivação para as mesmas.
MITO: A pessoa suicida está decidida a morrer.
VERDADE: Pessoas com tendências suicidas são ambivalentes, têm oscilações de humor e estão instáveis emocionalmente.
MITO: Somente quem tem transtorno mental é suicida.
VERDADE: Uma infelicidade profunda, uma perda traumática, podem levar à ideação suicida como a única forma de se livrar dessa dor.
MITO: É proibido que a mídia fale sobre o assunto.
VERDADE: É uma obrigação social falar sobre o assunto com uma abordagem séria, especializada, sem sensacionalismos.
MITO: Falar sobre pode estimular.
VERDADE: Falar abertamente sobre o assunto pode dar tempo para a pessoa refletir, buscar as causas desse desejo de deixar de viver e buscar ajuda.
O assunto é complexo, delicado e não pode ser encarado de maneira leviana. Toda pessoa tem ou terá momentos difíceis ou situações tristes na vida. Por isso, ajudar-se é algo que deve ser normal.
Dizem que juntos somos mais fortes.
Cláudia Gruber é secretária executiva de Comunicação da APP-Sindicato e Professora da rede estadual do Paraná.